OBRAS PÓSTUMAS (1869 – Allan Kardec)
Perguntas e problemas - Clélie Duplantier
Pergunta. – O Espiritismo nos explica
perfeitamente a causa dos sofrimentos individuais, como consequência imediata
de faltas cometidas na existência presente, ou expiação do passado; mas, uma
vez que cada um não deve ser responsável senão pelas suas próprias faltas,
explicam-se menos as infelicidades coletivas que atingem as aglomerações de
indivíduos, como, por vezes, toda uma família, toda uma cidade, toda uma nação
ou toda uma raça, e que atingem os bons como os maus, os inocentes como os
culpados.
Resposta. – Todas as leis que
regem o Universo, quer sejam físicas ou morais, materiais ou intelectuais,
foram descobertas, estudadas, compreendidas, procedendo do estudo e da
individualidade, e do da família à de todo o conjunto, generalizando-as
gradualmente, e constatando-lhe a universalidade dos resultados.
Ocorre o mesmo hoje
para as leis que o estudo do Espiritismo vos faz conhecer; podeis aplicar, sem
medo de errar, as leis que regem a família, a nação, as raças, o conjunto de
habitantes dos mundos, que são individualidades coletivas. As faltas dos
indivíduos, as da família, as da nação, e cada uma, qualquer que seja o seu
caráter, se expiam em virtude da mesma lei. O carrasco expia para com a sua
vítima, seja achando-se em sua presença no espaço, seja vivendo em contato com
ela numa ou várias existências sucessivas, até à reparação de todo o mal
cometido, Ocorre o mesmo quando se trata de crimes cometidos solidariamente,
por um certo número; as expiações são solidárias, o que não aniquila a expiação
simultânea das faltas individuais.
Em todo homem há três
caracteres: o do indivíduo,
do ser em si mesmo: o de membro de
família, e, enfim, o de cidadão;
sob cada uma dessas três faces pode ser criminoso ou virtuoso, quer dizer, pode
ser virtuoso como pai de família, ao mesmo tempo que criminoso como cidadão, e
reciprocamente; daí as situações especiais que lhe são dadas em suas
existências sucessivas.
Salvo exceção,
pode-se admitir como regra geral que todos aqueles que têm uma tarefa comum
reunidos numa existência, já viveram juntos para trabalharem pelo mesmo
resultado, e se acharão reunidos ainda no futuro, até que tenham alcançado o
objetivo, quer dizer, expiado o passado, ou cumprido a missão aceita.
Graças ao Espiritismo, compreendeis agora a
justiça das provas que não resultam de atos da vida presente, porque já vos foi
dito que é a quitação de dívidas do passado; por que não ocorreria o mesmo com
as provas coletivas? Dissestes que as infelicidades gerais atingem o inocente
como o culpado; mas sabeis que o inocente de hoje pode ter sido o culpado de
ontem? Que tenha sido atingido individualmente ou coletivamente, é que o
mereceu. E, depois, como dissemos, há faltas do indivíduo e do cidadão; a
expiação de umas não livra da expiação das outras, porque é necessário que toda
dívida seja paga até o último centavo. As virtudes da vida privada não são as
da vida pública; um, que é excelente cidadão, pode ser muito mau pai de
família, e outro, que é bom pai de família, probo e honesto em seus negócios,
pode ser um mau cidadão, ter soprado o fogo da discórdia, oprimido o fraco,
manchado as mãos em crimes de lesa-sociedade. São essas faltas coletivas que
são expiadas coletivamente pelos indivíduos que para elas concorreram, os quais
se reencontram para sofrerem juntos a pena de talião, ou ter a ocasião de
repararem o mal que fizeram, provando o seu devotamento à coisa pública,
socorrendo e assistindo aqueles que outrora maltrataram. O que é incompreensível, inconciliável com a justiça de Deus, sem a
preexistência da alma, se torna claro e lógico pelo conhecimento dessa lei.
A solidariedade, que
é o verdadeiro laço social, não está, pois, só para o presente; ela se estende
no passado e no futuro, uma vez que as mesmas individualidades se encontraram,
se reencontram e se encontrarão para subirem juntas a escala do progresso,
prestando-se concurso mútuo. Eis o que o Espiritismo faz compreender pela
equitativa lei da reencarnação e a continuidade das relações entre os mesmos
seres.
No livro dos Espíritos (1857- Allan Kardec)
Pergunta 167- Qual o objetivo
da reencarnação?
Resposta – Expiação,
aprimoramento progressivo da humanidade, sem o que onde estaria a Justiça?
No Evangelho de Mateus 26:52, Jesus disse a
Pedro que aquele que com a espada fere com a espada será ferido.
No Apocalipse 22:12 recompensarei a cada um
segundo suas obras.